O panorama do tratamento do câncer está em constante transformação, e cada vez mais a atenção se volta para as vias metabólicas exclusivas que sustentam o crescimento tumoral. O dicloroacetato de sódio (DCA) ganhou destaque nesse cenário graças à sua capacidade de desestabilizar a alteração do metabolismo energético presente em muitas células cancerígenas — fenômeno conhecido como efeito Warburg.

Fre­quentemente, as células tumorais priorizam a glicólise mesmo na presença de oxigênio abundante, abandonando a respiração celular regular. O DCA inibe a cinase da piruvato-desidrogenase (PDK), enzima essencial que controla a entrada do piruvato nas mitocôndrias. Ao bloquear a PDK, o DCA reativa a piruvato-desidrogenase (PDH), conduzindo a célula de volta à fosforilação oxidativa. Esse reposicionamento metabólico pode, em tese, privar as células cancerígenas de seu combustível preferencial e induzir morte celular programada (apoptose). Por esse motivo, o DCA figura como um aliado promissor em terapias complementares voltadas a aumentar a eficácia de tratamentos já estabelecidos.

Estudos indicam que o composto potencializa seus efeitos quando combinado a outros agentes terapêuticos. Ensaios que utilizam DCA associado à curcumina, por exemplo, sugerem ação sinérgica que pode aumentar a resposta antitumoral. A racionalidade por trás dessas terapias combinadas é explorar diversos pontos fracos das células cancerígenas, melhorando prognósticos e eventualmente reduzindo doses — minimizando, assim, efeitos colaterais. Paralelamente, investiga-se a influência do DCA na angiogênese e na modulação do microambiente tumoral.

Embora ainda não disponha de aprovação da FDA como tratamento oncológico, o DCA é objeto de pesquisas pré-clínicas e estudos clínicos precoces revelando considerável potencial. O foco direcionado às vulnerabilidades metabólicas específicas das células tumorais representa um avanço significativo na busca por estratégias inovadoras contra o câncer. Continuar aprofundando conhecimentos sobre seus mecanismos de ação, perfil de segurança e esquemas combinados ideais é fundamental para que o composto atinja toda a sua relevância terapêutica na oncologia moderna.