O dicloroacetato de sódio, conhecido como DCA, saltou nos últimos anos para o centro das atenções da pesquisa médica. A molécula age inibindo a piruvato-desidrogenase quinase (PDK), enzima-chave na regulação do metabolismo celular. Essa ação desencadeia efeitos relevantes tanto no combate a tumores quanto no tratamento de distúrbios metabólicos e neurológicos.

No campo da oncologia, muitos tipos de células cancerígenas dependem do efeito Warburg, processo pelo qual recorrem prioritariamente à glicólise para obter energia, mesmo quando há oxigênio disponível. Ao reativar a piruvato-desidrogenase (PDH), o DCA desvia o metabolismo tumoral da glicólise para a fosforilação oxidativa, prejudicando a sobrevivência maligna e aumentando sua sensibilidade à morte celular programada. Cientistas avaliam hoje o DCA como terapia coadjuvante, capaz de potencializar quimioterápicos e radioterapia, além de contornar resistências a fármacos. Trabalhos recentes indicam, por exemplo, ganhos adicionais quando ele é combinado com curcumina.

Fora da oncologia, o uso do DCA na neuroproteção também avança. Doenças associadas à disfunção mitocondrial e ao desequilíbrio metabólico, como acidose lática e certas neurodegenerações, configuram um novo campo de estudo. Ao regular o metabolismo energético, reduzir o estresse oxidativo e, potencialmente, conter a neuroinflamação, o DCA pode oferecer suporte terapêutico para pacientes com Parkinson, Alzheimer ou ELA. Pesquisadores investigam de que forma intervenções metabólicas como essa podem traduzir-se em benefícios clínicos reais.

A trajetória do DCA — de produto químico industrial a candidato promissor em ensaios clínicos — ilustra o valor de mirar o metabolismo celular no design de novos tratamentos. Embora ainda seja classificado como medicamento experimental, estudos contínuos sobre suas aplicações combinadas e sobre sistemas de liberação direcionada expandem constantemente seu escopo terapêutico. À medida que desvendamos cada vez mais a complexidade do metabolismo e sua influência sobre as doenças, compostos como o DCA abrem caminhos inovadores para terapias mais eficazes no futuro próximo.