Doenças do ouvido interno, como a síndrome de Ménière, afetam profundamente a qualidade de vida, trazendo vertigem, zumbido e inquietação constante. A betahistina consolidou-se, ao longo das últimas décadas, como um dos pilares terapêuticos destas afecções graças às suas propriedades farmacológicas inusitadas — ela atua diretamente na fisiopatologia subjacente. A seguir, entenda como o medicamento funciona e por que continua sendo peça-chave nas rotinas clínicas para restaurar o equilíbrio e aliviar sintomas incômodos.

O efeito benéfico da betahistina está intimamente ligado ao sistema histaminérgico, especialmente na região do ouvido interno. A molécula se comporta como análogo estrutural da histamina: estimula os receptores H1 e bloqueia selectivamente os receptores H3. A estimulação dos H1 provoca vasodilatação dos vasos sanguíneos da cóclea e do labirinto vestibular. Em outras palavras, aumenta-se o fluxo sanguíneo local, normalizando a pressão hidrostática do fluido endolinfático — o chamado hidropsia endolinfática, fenómeno central na doença de Ménière.

Paralelamente, o bloqueio dos receptores H3 reduz a retro-inibição da libertação de histamina e neurotransmissores essenciais para o equilíbrio. Isso reforça a sinalização nos núcleos vestibulares do tronco encefálico, facilitando a compensação vestibular — processo pelo qual o sistema nervoso readquire o tonus postural — e, consequentemente, diminuindo crises de vertigem. A convergência desses dois mecanismos permite que a terapia com betahistina seja particularmente alvo para o alívio de sintomas.

Estudos clínicos robustos comcluíram que a forma dihidrocloridrato de betahistina reduz significativamente a frequência e a intensidade das crises vertiginosas associadas à doença de Ménière. Alguns doentes também relatam melhora do zumbido, embora a evidência científica aqui ainda seja limitada. O amplo uso em rotina hospitalar e ambulatorial reforça o posicionamento da betahistina como padrão-ouro entre os antivertiginosos. Para pacientes que procuram alívio do zumbido, é oferecida uma opção terapêutica racional e segura.

A disponibilidade regulatória oscila conforme o país. Em boa parte da Europa, América Latina e Ásia, o fármaco é amplamente prescrito. Já nos Estados Unidos, enfrenta restrições — mas continua disponível através de farmácias de manipulação, demonstrando o interesse persistente da comunidade médica. Pesquisas em curso prometem delinear ainda mais os seus alvos moleculares, expandindo potenciais aplicações e trazendo esperança a milhões que lidam com alterações do ouvido interno.